quinta-feira, 30 de abril de 2009

"Ele há coisas...do diabo"

"ele ha coisas..." ouvi tantas vezes a minha avó dizer! Insólitas, absurdas, catastróficas, surpreendentes, vazias, inimagináveis, deprimentes, intensas, em frente aos seus olhos, ou quando lhe chegavam ao ouvido, dizia em tom de espectadora passiva, e admirada : "ele há coisas do diabo!" Se são do mafarrico ou não, nao sei, mas sei que hoje me apetece dizer "olha que ele há coisas...". Então não é que, ao ler a revista sábado, me deparo com um artigo que só pelo titulo me obrigou a ler 3 páginas inteiras de um amor....digamos que, palpável! Em boa verdade às vezes questionamo-nos, indignados até, porque é que o amor não é explicável, mensuravel, descartável...porque é que nao ha uma definição, uma regra, uma fórmula tipo 1+1 exponencial a muitos, por ali fora, ao longo do tempo. Até infinito nao poderia ser, porque depois, com uma certa idade já nao há capacidade nem resistencia para "elevar" mais nada, mas pelo menos haveria sempre um produto que decomposto e passado a prova dos nove daria sinais e resultados inteiros, ou não! "Há mulheres que fazem sexo com pontes" era o titulo do artigo. Pontes, Rochas,Coelhos, Pereiras até com o Espirito Santo é possivel haver sexo, sim porque enquanto apelidos estes podem designar um bom exemplar masculino. Mas neste caso a ponte era mesmo o objecto, o que nos liga à outra margem...e eu, espantada, descobri à medida que lia o artigo que existem mulheres "objectofilas". Fundamentado e devidamente explicado, a realizadora que fez um filme retratando este Amor, descrevia no artigo alguns casos de Objectofia, mulheres que se sentem sexualmente atraidas por objectos. Dizem, que estes Amores nunca as abandonarão, desilusão é algo que nao existe na relação, e assim o Amor pode ser completo e eterno ( isto se nao houver demoliçoes, ou desabamentos, lembro-me do caso "Entre os Rios")!. Será que havendo uma amante fulgurosa desta ponte, está também ela entre os pesarosos que pedem indemnização??! Bem, hoje aprendi mais uma palavra- objectofilia. Sou liberal, não preconceituosa, já nada ou quase nada me surpreende! Quer dizer... isto no campo da imaginação fértil, do cientificamente explicado, do terreno, enquanto homens dão à luz, enquanto germinam ramos verdes dentro de pulmões depois de inalada uma semente, ou mesmo cowboys que se tornam presidentes, existem mulheres que tem sexo com monumentos, e mais uma vez nao falo do monumento A.Pontes, B. Espirito Santo ou C. Pereira, falo mesmo da Torre Eiffel, Ponte Golden Gate, e até mesmo, quem sabe o Aqueduto das Águas Livres....é caso para dizer...ELE HÁ COISAS DO DIABO!!!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Circo

Neste mundo, que é só nosso, tão nosso...tudo parece eterno, tudo parece pleno, tudo parece infinito.Só existe o hoje, o agora, nunca se pensa no futuro, e se se pensa está sempre tão longe! Ao contrario das outras crianças nao gostava muito de circos, nunca gostei. O espectaculo em si nao me trazia grandes emoções, nao me arrepiava, nao me fazia vibrar, nao me tranportava, como eu costumava sonhar, para longe! Os animais coitados, estavam confinados a uma arena, que era assustadora, de rostos e gritos que a circundavam, e os assustavam. Eu era mais um rosto, sem grito, com expressao de pasmo, presente no palco, mas a vislumbrar o que estava lá fora...as jaulas vazias, as camas dentro dos camiões, aqueles vestidos cheios de lantejoulas entulhados em pequenos baús, e sala, será que tinham sala? A unica coisa que gostava no circo era os camiões e as caravanas onde sonhava entrar por um dia. Imaginava como seria viver ali dentro, seguir por uma estrada rumo ao desconhecido, viajar por entre sitios incertos, e caminhar sobre rodas, num malabarismo de fantasias que me assaltavam o pensamento. Os palhaços estavam sempre muito pintados, nao conseguia perceber quem estava ali por trás, se velho se novo, se bonito se feio, eram de um opaco que me limitava a imaginação. Nao, nao gostava de palhaços. Ainda hoje nao gosto de máscaras, apenas em Veneza hei-de comprar uma, colocar na parede, e viajar para Itália sempre que olhar para ela! Tenho a impressão que fui feita para sonhar. O imaginário seduz-me, o desconhecido atrai-me, a minha mente está envolta nas mais variadas e surpreendestes acrobacias. As vidas que vejo e que nao vivo, convidam-me a entrar nelas. Hoje entro em cada janela aberta com a luz acesa, entro em cada porta com a soleira baixa, em cada jardim a cheirar a terra molhada. Vou entrando... Ainda hoje sonho como será viver numa caravana, numa casa caiada de musgo, numa sala com quadros feios e cortinas de croché. Há magias nestes lugares...

"Aquarela - Toquinho"... (para todas as crianças a quem puxam as bochechas)!

"Numa folha qualquer Eu desenho um sol amarelo E com cinco ou seis retas É fácil fazer um castelo... Corro o lápis em torno Da mão e me dou uma luva E se faço chover Com dois riscos Tenho um guarda-chuva... Se um pinguinho de tinta Cai num pedacinho Azul do papel Num instante imagino Uma linda gaivota A voar no céu... Vai voando Contornando a imensa Curva Norte e Sul Vou com ela Viajando Havaí Pequim ou Istambul Pinto um barco a vela Branco navegando É tanto céu e mar Num beijo azul... Entre as nuvens Vem surgindo um lindo Avião rosa e grená Tudo em volta colorindo Com suas luzes a piscar... Basta imaginar e ele está Partindo, sereno e lindo Se a gente quiser Ele vai pousar... Numa folha qualquer Eu desenho um navio De partida Com alguns bons amigos Bebendo de bem com a vida... De uma América a outra Eu consigo passar num segundo Giro um simples compasso E num círculo eu faço o mundo... Um menino caminha E caminhando chega no muro E ali logo em frente A esperar pela gente O futuro está... E o futuro é uma astronave Que tentamos pilotar Não tem tempo, nem piedade Nem tem hora de chegar Sem pedir licença Muda a nossa vida E depois convida A rir ou chorar... Nessa estrada não nos cabe Conhecer ou ver o que virá O fim dela ninguém sabe Bem ao certo onde vai dar Vamos todos Numa linda passarela De uma aquarela Que um dia enfim Descolorirá... Numa folha qualquer Eu desenho um sol amarelo(Que descolorirá!) E com cinco ou seis retas É fácil fazer um castelo(Que descolorirá!) Giro um simples compasso Num círculo eu faço O mundo(Que descolorirá!)..." Toquinho

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Larguem As Minhas Bochechas!

"vá lá filha, cumprimenta as pessoas"! Diziam os meu pais, era eu ainda pequena, e já timida! E, logo que me aproximava, sentia umas quaisquer maos apertarem-me as bochechas. "Olá pequerrucha,carinha fofa...", ou laroca, ou um dos mais variados adjectivos que de melhor classifiquem umas bochechas rechonchudas na cara de uma criança viva! Roburizada, pela dor e pela ira....."mas porque tem sempre de puxar as minhas? Se sou a cara do meu pai, porque nao puxam também as dele?" "será que os adultos nao entendem que nao tem piada, nem sequer é engraçado, se ao menos me dessem uma prenda para compensar!". Por isso os meus pais nao conseguiam entender a minha retracção sempre que chegava a algum lado...."a educação que lhe damos contempla cumprimentos à chegada e à partida, onde estamos a falhar?" deveriam pensar...eu até era educada, agradecia sempre as prendas, pedia "por favor",nao fazia birras, e a unica resposta menos agradável, mas infantilmente correcta, que dei à minha mae quando nao me comprou um brinquedo alegando "filha hoje nao posso,nao tenho dinheiro", foi "mãe é simples, passas um cheque"! Até achavam graça ás respostas sempre espontaneas, só nao entendiam o porque de evitar o contacto de quem chegava...e de quem partia, porque também nessas horas, eram momentos de "apertos"! Mal me aproximava, era alvo dos mais intensos "beliscoes", apertões, puxoes, piores os que vinham das maos peludas, nao sei porque eram sempre mais fortes.....detestava! "Quando terei idade para esticar a mão, como faz o meu pai, e retribuir toda aquela força acumulada nas minhas bochechas, em todos aqueles ossos?!"