quinta-feira, 18 de junho de 2009

Musica

Trabalhava concentrada, sem que qualquer ruído me perturbasse, alheia a qualquer som exterior….de repente, entrou-me pela janela da cozinha uma melodia que tal como o cheiro do melhor cozinhado se vai infiltrando e apurando as papilas gustativas, também ela, foi entrando e mergulhou lentamente em cada poro meu, apurando memórias. A concertina italiana, tal qual a ouvi na piazza di campo dei fiore, em Roma, fez-me relembrar tudo. Em Itália é tudo mágico. Aquela vespa com dois sorrisos apaixonados, as flores a sorrirem em uníssono, os cheiros que me fizeram sorrir….e as musicas…as musicas são como um bálsamo, um mar de calma num infinito de paz…..nada como uma serenata na língua de Vivaldi. Em mim corre agora a melodia, que dança cada vez mais perto e mais intensa, e eu estou lá…na bela Itália. Em Itália sou Julieta, aqui também. Estou em Verona, lembro-me daquela janela pequenina com portas de madeira, de onde sorrio ao ver-te na rua de pedra a caminhar e a cantarolar para mim… Olho para ti, enquanto o senhor da concertina caminha para a sombra da varanda, cambaleando de suor, mas respirando a sinfonia. Em anestesia total, a melodia segue tocando, e eu continuo em Verona, lembro-me do sol quente que me fizeste ver, lembro-me das ruas assimétricas e estreitas e dos arcos que as sombreiam! Com esta melodia lembro-me de tudo em Verona, dos cheiros, das cores, do calor, de ti, lembro-me de tudo como se lá estivesse estado.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

I've been traveling' on this road to long

I've been traveling' on this road to long Just trying to find my way back home... Que estrada tortuosa... Vejo sombras, olho para trás e vejo marcas, um caminho la atrás sigo, e vejo um nada, um reflexo de tudo...e nada não vejo o fim...há fim? o caminho de casa, é apenas o caminho certo nao importa a casa, nao importa a estrada, nao importa a direcção importa encontrar o força para continuar, importa que haja casa importa que haja algo para encontrar, importa o sentido

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Só por isso...

Só porque sou doida e gosto… Só porque me apetece gritar a plenos pulmões estou viva… Só porque me apetece sentir a tua boca na minha…. Só porque me chamo C…., mas não gosto do meu nome Só porque há noites em que não quero dormir E há dias em que não quero viver Só porque a minha pele aquece com o teu respirar Só porque vibro só de pensar Só porque há rasgos de raiva na minha mente Só porque não há espaço para tanta gente Só porque não sei, se sei onde entrar Só porque não quero ficar neste lugar Só porque sou quem me fiz tão bem E há dias em que não sou ninguém Só porque amo, rio e choro Só porque não sou comum mortal Só porque há um enredo em mim E não há ninguém assim Só porque não existo neste mundo chão Só porque sim, só porque não Só porque faço o que não devo E ás vezes também escrevo Só porque não sou de ferro e aço E há dias em que sou fogo Só porque não sei o que faço E há dias que te magoo Só porque gosto de gostar Só porque também sinto desejo E há dias em que não me vejo Só porque sou naif e insana E há dias em que pulsa a gana Só porque não há mal para mim Só porque serei sempre assim Só porque estas a dormir e eu não Peço-te perdão!

terça-feira, 5 de maio de 2009

Tu nao existes!

Quando nao tomo a atitude tipicamente esperada, quando contorno os pensamentos robotizados, quando questiono o B-A-BA instituido, amealho mais um "tu nao existes"! Desta vez, e só porque fui a uma sapataria e trouxe um par de sandalias com um pé de cada cor, não existo... Namorei as sandalias douradas na montra, que "fashion" o dourado! Entrei e pedi para experimentar, mas havia também em preto...nao tenho nenhumas pretas, e dão jeito porque ficam bem com tudo... "traga-me os dois pares, experimento e já decido". Pois cá está o probelma, o "já decido". Decisões são das tarefas mais dificeis de realizar, para inseguras como eu. Até sou prática, desenrascada, flexivel, mas quando toca a decidir, especialmente quando é entre duas opções....óh meu amigo....é o cabo das tormentas! No esquerdo o preto, no direito o dourado...claro que ouvi o comentário previsivel "ficam-lhe as duas muito bem, leve as duas". Pois, noutros tempos teria sido a opção- nao optar, mas dada a conjuntura actual (da minha conta bancaria), decidi fazer um desmame desse vicio que corrói os mais fracos (ou fortes...na conta bancária), o consumismo! Assim sendo, e dada a irritante e temida indecisão, (nao imaginam como é desgastante para a própria pessoa nao se conseguir decidir, chego a querer férias de mim), perguntei : "posso levar um pé de cada cor e escolher em casa?, claro que lhe pago já e amanha venho trocar um dos pés pela cor que optei!" Acho que nesse momento virei um "Alien", e por isso, não existo! A senhora ficou a olhar para mim, sem conseguir dizer um "ai". A resposta demorou o tempo de ir aos ficheiros mentais e pesquisar as perguntas possiveis dentro do ramo, e a busca resultou em "essa opção nao existe"...finalmente balbuciou e presumo que o "pode ser", que conseguiu emitir, se deveu a um medo de perder uma cliente, e de "bloquear o sistema". Em casa ao espelho,para a dificil decisão, e após explicar à familia que não..ainda nao me lembrei de lançar a moda de usar uma sandalia de cada cor, encho mais o porquinho (bochechudo),com outro"tu nao existes"! Nunca tinha sentido tanta alegria de uma vendadora ao ver-me entrar na loja!Por momentos senti o orgulho de Castelo Branco, como "habitué" do Chanel, e YSL! "Bom dia, sempre veio?!" Mais uma que julgou que me ia passear com o modelito diferente em cada pé! Trouxe o par preto (com ele nunca me comprometo), mas ainda penso nas douradas! Eu nao existo!

quinta-feira, 30 de abril de 2009

"Ele há coisas...do diabo"

"ele ha coisas..." ouvi tantas vezes a minha avó dizer! Insólitas, absurdas, catastróficas, surpreendentes, vazias, inimagináveis, deprimentes, intensas, em frente aos seus olhos, ou quando lhe chegavam ao ouvido, dizia em tom de espectadora passiva, e admirada : "ele há coisas do diabo!" Se são do mafarrico ou não, nao sei, mas sei que hoje me apetece dizer "olha que ele há coisas...". Então não é que, ao ler a revista sábado, me deparo com um artigo que só pelo titulo me obrigou a ler 3 páginas inteiras de um amor....digamos que, palpável! Em boa verdade às vezes questionamo-nos, indignados até, porque é que o amor não é explicável, mensuravel, descartável...porque é que nao ha uma definição, uma regra, uma fórmula tipo 1+1 exponencial a muitos, por ali fora, ao longo do tempo. Até infinito nao poderia ser, porque depois, com uma certa idade já nao há capacidade nem resistencia para "elevar" mais nada, mas pelo menos haveria sempre um produto que decomposto e passado a prova dos nove daria sinais e resultados inteiros, ou não! "Há mulheres que fazem sexo com pontes" era o titulo do artigo. Pontes, Rochas,Coelhos, Pereiras até com o Espirito Santo é possivel haver sexo, sim porque enquanto apelidos estes podem designar um bom exemplar masculino. Mas neste caso a ponte era mesmo o objecto, o que nos liga à outra margem...e eu, espantada, descobri à medida que lia o artigo que existem mulheres "objectofilas". Fundamentado e devidamente explicado, a realizadora que fez um filme retratando este Amor, descrevia no artigo alguns casos de Objectofia, mulheres que se sentem sexualmente atraidas por objectos. Dizem, que estes Amores nunca as abandonarão, desilusão é algo que nao existe na relação, e assim o Amor pode ser completo e eterno ( isto se nao houver demoliçoes, ou desabamentos, lembro-me do caso "Entre os Rios")!. Será que havendo uma amante fulgurosa desta ponte, está também ela entre os pesarosos que pedem indemnização??! Bem, hoje aprendi mais uma palavra- objectofilia. Sou liberal, não preconceituosa, já nada ou quase nada me surpreende! Quer dizer... isto no campo da imaginação fértil, do cientificamente explicado, do terreno, enquanto homens dão à luz, enquanto germinam ramos verdes dentro de pulmões depois de inalada uma semente, ou mesmo cowboys que se tornam presidentes, existem mulheres que tem sexo com monumentos, e mais uma vez nao falo do monumento A.Pontes, B. Espirito Santo ou C. Pereira, falo mesmo da Torre Eiffel, Ponte Golden Gate, e até mesmo, quem sabe o Aqueduto das Águas Livres....é caso para dizer...ELE HÁ COISAS DO DIABO!!!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Circo

Neste mundo, que é só nosso, tão nosso...tudo parece eterno, tudo parece pleno, tudo parece infinito.Só existe o hoje, o agora, nunca se pensa no futuro, e se se pensa está sempre tão longe! Ao contrario das outras crianças nao gostava muito de circos, nunca gostei. O espectaculo em si nao me trazia grandes emoções, nao me arrepiava, nao me fazia vibrar, nao me tranportava, como eu costumava sonhar, para longe! Os animais coitados, estavam confinados a uma arena, que era assustadora, de rostos e gritos que a circundavam, e os assustavam. Eu era mais um rosto, sem grito, com expressao de pasmo, presente no palco, mas a vislumbrar o que estava lá fora...as jaulas vazias, as camas dentro dos camiões, aqueles vestidos cheios de lantejoulas entulhados em pequenos baús, e sala, será que tinham sala? A unica coisa que gostava no circo era os camiões e as caravanas onde sonhava entrar por um dia. Imaginava como seria viver ali dentro, seguir por uma estrada rumo ao desconhecido, viajar por entre sitios incertos, e caminhar sobre rodas, num malabarismo de fantasias que me assaltavam o pensamento. Os palhaços estavam sempre muito pintados, nao conseguia perceber quem estava ali por trás, se velho se novo, se bonito se feio, eram de um opaco que me limitava a imaginação. Nao, nao gostava de palhaços. Ainda hoje nao gosto de máscaras, apenas em Veneza hei-de comprar uma, colocar na parede, e viajar para Itália sempre que olhar para ela! Tenho a impressão que fui feita para sonhar. O imaginário seduz-me, o desconhecido atrai-me, a minha mente está envolta nas mais variadas e surpreendestes acrobacias. As vidas que vejo e que nao vivo, convidam-me a entrar nelas. Hoje entro em cada janela aberta com a luz acesa, entro em cada porta com a soleira baixa, em cada jardim a cheirar a terra molhada. Vou entrando... Ainda hoje sonho como será viver numa caravana, numa casa caiada de musgo, numa sala com quadros feios e cortinas de croché. Há magias nestes lugares...

"Aquarela - Toquinho"... (para todas as crianças a quem puxam as bochechas)!

"Numa folha qualquer Eu desenho um sol amarelo E com cinco ou seis retas É fácil fazer um castelo... Corro o lápis em torno Da mão e me dou uma luva E se faço chover Com dois riscos Tenho um guarda-chuva... Se um pinguinho de tinta Cai num pedacinho Azul do papel Num instante imagino Uma linda gaivota A voar no céu... Vai voando Contornando a imensa Curva Norte e Sul Vou com ela Viajando Havaí Pequim ou Istambul Pinto um barco a vela Branco navegando É tanto céu e mar Num beijo azul... Entre as nuvens Vem surgindo um lindo Avião rosa e grená Tudo em volta colorindo Com suas luzes a piscar... Basta imaginar e ele está Partindo, sereno e lindo Se a gente quiser Ele vai pousar... Numa folha qualquer Eu desenho um navio De partida Com alguns bons amigos Bebendo de bem com a vida... De uma América a outra Eu consigo passar num segundo Giro um simples compasso E num círculo eu faço o mundo... Um menino caminha E caminhando chega no muro E ali logo em frente A esperar pela gente O futuro está... E o futuro é uma astronave Que tentamos pilotar Não tem tempo, nem piedade Nem tem hora de chegar Sem pedir licença Muda a nossa vida E depois convida A rir ou chorar... Nessa estrada não nos cabe Conhecer ou ver o que virá O fim dela ninguém sabe Bem ao certo onde vai dar Vamos todos Numa linda passarela De uma aquarela Que um dia enfim Descolorirá... Numa folha qualquer Eu desenho um sol amarelo(Que descolorirá!) E com cinco ou seis retas É fácil fazer um castelo(Que descolorirá!) Giro um simples compasso Num círculo eu faço O mundo(Que descolorirá!)..." Toquinho

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Larguem As Minhas Bochechas!

"vá lá filha, cumprimenta as pessoas"! Diziam os meu pais, era eu ainda pequena, e já timida! E, logo que me aproximava, sentia umas quaisquer maos apertarem-me as bochechas. "Olá pequerrucha,carinha fofa...", ou laroca, ou um dos mais variados adjectivos que de melhor classifiquem umas bochechas rechonchudas na cara de uma criança viva! Roburizada, pela dor e pela ira....."mas porque tem sempre de puxar as minhas? Se sou a cara do meu pai, porque nao puxam também as dele?" "será que os adultos nao entendem que nao tem piada, nem sequer é engraçado, se ao menos me dessem uma prenda para compensar!". Por isso os meus pais nao conseguiam entender a minha retracção sempre que chegava a algum lado...."a educação que lhe damos contempla cumprimentos à chegada e à partida, onde estamos a falhar?" deveriam pensar...eu até era educada, agradecia sempre as prendas, pedia "por favor",nao fazia birras, e a unica resposta menos agradável, mas infantilmente correcta, que dei à minha mae quando nao me comprou um brinquedo alegando "filha hoje nao posso,nao tenho dinheiro", foi "mãe é simples, passas um cheque"! Até achavam graça ás respostas sempre espontaneas, só nao entendiam o porque de evitar o contacto de quem chegava...e de quem partia, porque também nessas horas, eram momentos de "apertos"! Mal me aproximava, era alvo dos mais intensos "beliscoes", apertões, puxoes, piores os que vinham das maos peludas, nao sei porque eram sempre mais fortes.....detestava! "Quando terei idade para esticar a mão, como faz o meu pai, e retribuir toda aquela força acumulada nas minhas bochechas, em todos aqueles ossos?!"